Existe no Brasil um regime de censura e perseguição. Todos veem e percebem isto — de jornalistas, juristas, influenciadores, políticos a pessoas comuns
Existe o pecado pela ação e pela omissão. Se você vê uma mulher sendo estuprada ou alguém ser morto à sua frente e não faz nada, você está permitindo um crime e anui, pela omissão e covardia, com o crime cometido. Existe no Brasil um regime de censura e perseguição. Todos veem e percebem isto — de jornalistas, juristas, influenciadores, políticos a pessoas comuns. São 220 milhões de pessoas que se percebem tolhidas em cada palavra ou pensamento por uma ditadura do Judiciário. Ninguém faz nada. Ou melhor dizendo, reclamam, desesperados. Mas ninguém faz nada de objetivo.
Uma coisa simples a ser feita? Pedir o impeachment de quem está à frente desta ditadura: o senhor Alexandre de Moraes. Ninguém o faz. Por medo, covardia, oportunismo ou alienação da realidade. Enquanto dominada pelo medo, a República da Censura se alastra pelas beiradas e pela frente. Também pela omissão.
Na CPI do 8 de Janeiro, por exemplo, os depoimentos de Flávio Dino e do general Dias foram rejeitados. A versão governista prevalecerá em meio ao silenciamento de vozes que poderiam esclarecer uma verdade inconveniente ao governo. Dias e Dino, que foram alertados pela Polícia Federal e pela Abin das invasões, poderiam explicar por que nada fizeram para impedir as invasões. Dias poderia explicar por que adulterou documentos que o alertaram sobre as invasões. E o senhor Alexandre de Moraes poderia explicar se teve ou não acesso a essas comunicações e alertas sobre as invasões e as imagens do chefe do GSI, que recebeu e conduziu os invasores no fatídico 8 janeiro. Poderia explicar por que, em tendo posse destas informações, não ordenou a prisão de Dias ou por que prendeu como uma boiada milhares de pessoas sem a devida individuação de conduta. Nada disto saberemos.
Censura pela omissão, pelo desaparecimento intencional de vozes. A jurisprudência alexandrina da censura vai fazendo escola. Tentaram aprovar um projeto de lei que poderia proibir qualquer pessoa de tecer criticas a qualquer político ou autoridade de Estado. Hoje em dia, é implicitamente proibido qualquer crítica à atuação do Judiciário ou à Justiça Eleitoral do Brasil — sob pena de multa, censura e prisão imediata sem qualquer processo. Tudo implicado nos famigerados inquéritos de fake news, discurso de ódio e atos golpistas, tipificações criminais criadas do imaginário dos supremos juízes de nossa corte inquisitorial.
Claro que, em algum momento, deputados e senadores e outras autoridades iriam invejar a intocabilidade dos nossos juízes supremos. A sanha autoritária gerada por cima gera a vontade do poder absoluto e intocável de todos os poderosos. Vontade de censurar toda crítica ao seu poder constituído. Vaidade, tudo é vaidade, já dizia o demônio e a sanha demoníaca autoritária de uma autoridade constituída e influenciada pela soberba alexandrina suprema. Censura pela ação direta da vaidade. O projeto de lei foi ceifado e diminuído. Mas a vontade narcísica da intocabilidade que fere de morte o princípio básico da critica legitima, que é o pilar base da democracia, está aí, tatuado na história do Legislativo e na ação do Supremo tupiniquim.
A jurisprudência da censura avança para além da política. Se você quer apelar para Deus por um milagre, esqueça. Querem também censurar e reescrever a Bíblia. O deputado Nikolas Ferreira está ameaçado de prisão por criticar a Parada Gay, que profanou símbolos sagrados do Cristianismo e promove a sexualização precoce de crianças e ideologia de gênero. Para isto o deputado citou a Bíblia, dizendo que homossexualidade não era doença, mas, sim pecado. E que Cristo perdoa pecadores. Aqui cabe um parêntese meu: Cristo de fato nunca fez menção a homossexualidade como pecado em nenhum dos Evangelhos. Há passagens na Bíblia que criticam a homossexualidade, mas não na palavra de cristo. Cristo talvez censurasse Nikolas por pôr palavras em sua boca. Ainda assim, a Bíblia pode ser tomada como um livro sagrado e como lei para a religião. Alterar a Bíblia pra caber num discurso pseudo-progressista e querer prender alguém por professar sua fé no Livro Sagrado é profanar a liberdade de culto, que é liberdade de expressão. Mais uma vez, é censura: pela ação e pela supressão e alteração de palavras.
O mundo limpinho da cultura Woke, que quer condenar todo mundo por homofobia, racismo, machismo e todos os ismos é a base da censura do bem, que move Xandão e seus Supremos. É a censura do bem. Em nome da democracia, Xandão não para de atacar: mandou proibir todas as redes sociais de Monark e proibiu o próprio de dizer qualquer coisa que ele, Xandão, considerar fake news. Por qualquer coisa, leia-se contestar a lisura do processo eleitoral. Ora, Trump recentemente em entrevista à CNN disse que as eleições norte-americanas foram roubadas. Nada lhe aconteceu. Sabe por quê? Porque os Estados Unidos são um país que sabem que a crítica e a desconfiança, ainda que despropositadas e levianas, fazem parte da liberdade de expressão dentro de uma democracia, que pressupõe o diálogo e os contrastes para se chegar a um esboço de verdade.
Mas, no Brasil, a verdade imperiosa de Alexandre de Moraes e seus assessores Supremos se impõem para esmagar a liberdade, em nome de uma falsa democracia. Ditadura que se traveste de democracia para poder esmagar a democracia. Com ajuda de uma imprensa que censura a própria liberdade de análise, em nome de uma ideologia que quer aprisionar a realidade dentro de um molde utópico de realidade.
A autocensura ideológica, o oportunismo, a covardia politica e a intolerância religiosa ajudam Alexandre e seus assessores Supremos na empreitada rumo à censura total de tudo que não seja a verdade única deles. Para tanto, já prenderam deputados, calaram senador, prenderam humoristas, líderes evangélicos, caciques, pessoas comuns, senhoras de idade completamente inocentes. Para isto, deixaram o humorista Bismark Fugazza enjaulado, sem ver a luz do sol, por quarenta e cinco dias — sem sequer uma acusação formal, em flagrante tortura do Estado a um cidadão comum.
O Brasil se tornou uma República da Censura. República significa a coisa pública, ou seja, comandada por todos, pelo povo. Se uma só pessoa comanda a verdade de uma nação, esta coisa pública vira uma coisa privada. A coisa privada de Alexandre de Moraes. Somos 220 milhões de pessoas comandadas pela censura de um único homem e seus assessores Supremos. Somos 220 milhões de pessoas comandadas pelo medo de contestar uma ordem abusiva, censora e autoritária de um homem a quem conferimos um poder simbólico de melhorar nossas vidas e que está piorando a vida de toda a Republica. A República é uma ficção que criamos para melhorar nossas vidas. Se esta República passa a piorar a vida de todos, qual a razão de mantermos esta ficção? A coisa deve tornar a ser pública e as vozes devem se sobrepor à voz de um único homem que quer calar a voz de todos. A coisa é bastante óbvia. Só não vê quem não quer ver e quem, por covardia ou canalhice, se cala e quer calar a todos que enxergam.