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A delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid embasa, em parte, a denúncia sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado apresentada pela PGR (Procuradoria-Geral da República) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras 33 pessoas. Porém, com a liberação dos vídeos pelo ministro Alexandre de Moraes, é possível perceber que determinadas falas de Cid, que contrastam com as acusações, não foram incluídas na peça final.
Um exemplo disso é o momento em que o ex-ajudante de ordens afirmou que não saberia dizer se Bolsonaro tinha ou não conhecimento do plano “Punhal Verde e Amarelo”, que supostamente planejava a morte de Moraes, Lula e Geraldo Alckmin.
O possível autor do documento seria o general Mário Fernandes, e a PGR usa uma troca de mensagens entre ele e Cid para sustentar que o então presidente tinha conhecimento e autorizou o plano. “Eu não tenho ciência se o presidente sabia ou não do plano que foi tratado, do Punhal Verde e Amarelo, e se o general Mário levou esse plano para ele ter ciência ou não”, disse Cid em depoimento, trecho que não aparece na peça final.
Outro ponto de questionamento surge no âmbito do suposto monitoramento do ministro Alexandre de Moraes. A denúncia afirma que o pedido foi feito por Bolsonaro. Porém, em um trecho da delação, Cid afirma que o monitoramento não ocorreu no contexto do plano de assassinato, mas sim por conta de supostos encontros do ministro com o então vice-presidente Hamilton Mourão.
Há ainda divergências sobre os acontecimentos do dia 15 de dezembro de 2022, quando a operação do plano teria sido colocada em prática e abortada. Assim como em outros trechos, a denúncia usa uma troca de mensagens entre Cid e um dos militares para sustentar que as supostas tentativas de assassinato estavam em curso. No entanto, em um dos depoimentos, o ex-ajudante de Bolsonaro afirmou que estava em um local com sinal de internet precário e que não teria se comunicado com os militares.
“Naquele momento, ninguém botou um plano de ação. É esse ponto que eu quero deixar claro: ninguém chegou com um plano, colocou na mesa e disse ‘nós vamos prender o Lula, nós vamos matar, nós vamos espionar’”, declarou Cid em depoimento à Polícia Federal em 19 de novembro.
Denúncia
A peça foi elaborada com base nas investigações da Polícia Federal, sendo a delação premiada parte do material. No entanto, a denúncia também conta com outros elementos de prova, quebras de sigilo e depoimentos adicionais.
Em novembro, a Polícia Federal indiciou 37 pessoas, das quais nove não foram denunciadas. Outras seis, indiciadas em momentos diferentes, foram incluídas na denúncia da PGR. Agora, a ação segue para o STF (Supremo Tribunal Federal), que decidirá se aceita ou não a denúncia.
Entre os denunciados está o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), apontado como líder de uma organização criminosa que teria a intenção de mantê-lo no poder, mesmo sem vencer as eleições de 2022.
Segundo a defesa de Bolsonaro, ele “jamais compactuou com qualquer movimento que visasse a desconstrução do Estado Democrático de Direito ou das instituições que o pavimentam”.
Veja quem é quem
- Ailton Gonçalves Moraes Barros – ex-major do Exército e advogado
- Alexandre Rodrigues Ramagem – deputado federal e ex-diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência)
- Almir Garnier Santos – ex-comandante da Marinha (abril/2021 a dezembro/2022)
- Anderson Gustavo Torres – ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do DF
- Ângelo Martins Denicoli – major da reserva do Exército
- Augusto Heleno Ribeiro Pereira – ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional
- Bernardo Romão Correa Netto – coronel do Exército
- Carlos Cesar Moretzsohn Rocha – engenheiro especialista em segurança da informação
- Cleverson Ney Magalhães – coronel do Exército e ex-oficial do Comando de Operações Terrestres
- Estevam Cals Theophilo Gaspar De Oliveira – general de brigada do Exército
- Fabrício Moreira De Bastos – ex-comandante do 52º Batalhão de Infantaria de Selva (Marabá-PA)
- Filipe Garcia Martins Pereira – ex-assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República
- Fernando De Sousa Oliveira – ex-número 2 da Secretaria de Segurança Pública do DF
- Giancarlo Gomes Rodrigues – subtenente do Exército
- Guilherme Marques De Almeida – tenente-coronel de Infantaria
- Hélio Ferreira Lima – tenente-coronel
- Jair Messias Bolsonaro – ex-presidente da República
- Marcelo Araújo Bormevet – agente da Polícia Federal
- Marcelo Costa Câmara – coronel do Exército
- Márcio Nunes De Resende Júnior – coronel do Exército
- Mário Fernandes – general da reserva
- Marília Ferreira De Alencar – ex-subsecretária da SSP-DF
- Mauro César Barbosa Cid – tenente-coronel do Exército e ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro
- Nilton Diniz Rodrigues – general do Exército
- Paulo Renato De Oliveira Figueiredo Filho – neto de João Figueiredo, último general-presidente na ditadura militar
- Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira – general do Exército e ex-ministro da Defesa
- Rafael Martins de Oliveira – tenente-coronel
- Reginaldo Vieira de Abreu – coronel
- Rodrigo Bezerra de Azevedo – tenente-coronel
- Ronald Ferreira de Araújo Júnior – tenente-coronel
- Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros – tenente-coronel
- Silvinei Vasques – ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal
- Walter Souza Braga Netto – general da reserva, ex-ministro da Defesa e candidato a vice-presidente em 2022
- Wladimir Matos Soares – policial federal