Na era digital, onde a popularidade se mede em números de seguidores, curtidas e visualizações, muitos influenciadores ultrapassam os limites do bom senso e do respeito em busca de engajamento. Um exemplo recente envolve o casal de influenciadores Camile Souza e seu companheiro, radicados em Rio Branco, mas que, pelas redes sociais, mais parecem habitantes de Copenhague, na Dinamarca — tamanha a distância entre o que pregam e a realidade da maioria dos acreanos.
Em um vídeo que circulou nas redes sociais, Camile criticou duramente os restaurantes de Epitaciolândia e Brasiléia, cidades irmãs na fronteira com a Bolívia. Segundo a influenciadora, ela chegou “morrendo de fome” à região, mas não conseguiu se alimentar porque os estabelecimentos não estariam, em suas palavras, à altura de seu padrão. Citou moscas, esgotos a céu aberto e falta de higiene, classificando o cenário como “inadequado”.
A crítica, travestida de opinião pessoal, na prática, ultrapassa os limites da liberdade de expressão ao generalizar de forma injusta duas cidades acolhedoras, que diariamente recebem estudantes, turistas e comerciantes. Brasiléia e Epitaciolândia possuem, sim, restaurantes e hotéis com qualidade dentro de suas realidades. São cidades pequenas, com população modesta, mas com uma história de acolhimento e luta.
Afinal, será que os moradores locais — que frequentam diariamente esses restaurantes — são porcos ou imundos, como sugere, mesmo que indiretamente, a fala da influenciadora? Onde está o respeito com a população que vive, trabalha e constrói essas cidades com tanto esforço?
Brasiléia, por exemplo, é pioneira no maior carnaval fora de época do Acre, Epitaciolândia abriga a tradicional festa do rodeio com grandes atrações nacionais e é polo do turismo de compras e lazer da região. Tem história, tem cultura e tem povo digno.
Não se trata de reprimir críticas, mas de exigir responsabilidade. Influenciar é um ato de poder, e como todo poder, requer ética. Descer a fronteira só para buscar polêmica, alimentar uma bolha digital e conquistar mais seguidores às custas da imagem de duas cidades inteiras é, no mínimo, irresponsável.
A pergunta que fica é: vale tudo para ganhar engajamento? Inclusive denegrir quem vive dignamente do próprio suor?
Aqui, em Brasiléia e Epitaciolândia, dizemos: não. Não à desinformação, não à arrogância disfarçada de “padrão”, e sim ao respeito, à verdade e ao orgulho do que somos.