OPINIÃO: Covardia, Quando o ICMBio Esquece o Legado de Chico Mendes e Persegue o Povo da Floresta

Nos últimos dias, vídeos que circulam nas redes sociais chocaram moradores do Alto Acre e de todo o estado. Nas imagens, fiscais do ICMBio, do IBAMA e agentes da Polícia Federal aparecem em uma operação truculenta dentro da Reserva Extrativista Chico Mendes, em Xapuri, no Acre. O alvo? Pequenos produtores que vivem da subsistência e que, segundo os órgãos, teriam uma “quantidade excessiva” de gado e produção de leite.

Mas afinal, quem define o que é “excessivo” em um território onde o abandono do Estado é a norma? O que é devastador? Viver com quatro, cinco ou dez vacas leiteiras e tirar dali o sustento da família? Desde quando preservar significa condenar à miséria quem nasceu, cresceu e resistiu na floresta?

O maior absurdo é que tudo isso está sendo feito pelo ICMBio – o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Uma ironia cruel. O nome de um líder que deu a vida lutando pelos direitos dos seringueiros e povos da floresta está sendo usado para reprimir e criminalizar justamente aqueles que mais se parecem com ele.

O produtor rural que aparece em um dos vídeos, emocionado, denuncia a retirada do gado que levou mais de 20 anos para construir junto ao pai, já falecido. É impossível assistir sem se indignar. Que empatia há nesses fiscais? Que sensibilidade há nos critérios de Brasília? Onde estão os estudos sociais, os laudos sobre a realidade das famílias que sobrevivem com dificuldades extremas, sem energia elétrica digna, sem estrada para escoar seus produtos, sem apoio técnico ou crédito rural adaptado à realidade da floresta?

Sob o governo do presidente Lula, as operações de fiscalização se intensificaram. A pergunta que ecoa é: por quê? Estaria o governo cedendo à pressão internacional de países como Suécia, Finlândia e outros da Europa, que condicionam repasses milionários ao Brasil a uma “proteção ambiental rígida”? E que proteção é essa que ignora o ser humano? Que floresta é essa que vale mais sem as pessoas?

O que se vê é uma floresta criminalizada, onde o pobre que tenta produzir é tratado como Bandido, mas o grande capital segue com suas áreas legalizadas, manejos aprovados, exportações em alta. Será que a repressão serve apenas ao pequeno?

No domingo, 8 de junho, moradores revoltados de Xapuri fecharam a BR-317 em protesto. Foi um grito coletivo contra os abusos, contra a covardia. Na carta aberta que divulgaram, denunciaram o desrespeito aos direitos humanos e exigiram o fim das operações truculentas. É um alerta ao país e, especialmente, aos políticos acreanos.

Está na hora de todos os deputados, sem exceção, levantarem a bandeira dos moradores da reserva. Eles são os verdadeiros preservadores da floresta. São eles que resistem sem apoio, sem políticas públicas, sem reconhecimento. Não podemos aceitar que, em nome da “preservação”, essas famílias sejam massacradas pela ausência de diálogo e pelo excesso de autoritarismo.

É possível preservar sem punir os pequenos. É possível proteger o meio ambiente com diálogo, com programas de regularização fundiária adaptada à realidade da floresta, com apoio técnico, com incentivo à produção sustentável e não com confisco de bens, humilhação e criminalização.

É urgente reavaliar o papel do ICMBio, sua postura e seu distanciamento da realidade das comunidades que vivem dentro das reservas. Antes de descer com a força policial, que subam com a escuta, com empatia, com um plano de desenvolvimento que inclua e respeite.

A floresta sem gente não é floresta viva. É vitrine para europeu bater palma enquanto o povo da floresta morre de fome, de tristeza e de abandono.

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