Qual é, de fato, o papel de um vereador? No papel, é simples: legislar, fiscalizar e representar. O vereador é um elo direto entre a população e o poder público, com a missão de criar leis municipais, acompanhar a aplicação dos recursos públicos e defender os interesses da comunidade. Na prática, no entanto, esse papel muitas vezes se mistura com interesses maiores, e nem sempre tão transparentes.
Em Brasileia, um caso recente coloca essa reflexão sob os holofotes. Uma vereadora, eleita sob o guarda-chuva de uma ex-prefeita extremamente popular, vem protagonizando uma reviravolta política que deixou muitos eleitores intrigados. Izabelle Araújo, nome que emergiu com força nas últimas eleições municipais, é hoje uma das principais vozes da oposição ao prefeito que ela mesma ajudou a eleger e que, até pouco tempo, chamava de “melhor opção para Brasileia”.
Vale lembrar que Izabelle só conseguiu ser eleita após herdar votos significativos de um colega de partido, além de surfar na popularidade da então prefeita, que encerrava seu segundo mandato com mais de 60% de aprovação e ainda conseguiu eleger seu sucessor com folga. Em outras palavras, a vitória de Izabelle foi, em boa parte, construída com base no prestígio de terceiros.
Mas o que mudou?
A vereadora, que antes caminhava lado a lado com o grupo que a impulsionou, agora aparece como uma crítica feroz da atual gestão. Não é errado fazer oposição, claro. Mudar de opinião faz parte da democracia. Mas é curioso notar como a crítica, quando bem direcionada, angaria não apenas atenção, mas apoio político e engajamento digital — especialmente entre aqueles que não se identificam com a administração atual.
Izabelle hoje coleciona curtidas, seguidores e admiradores nas redes sociais por sua atuação crítica. E enquanto muitos a veem como uma fiscalizadora destemida, outros enxergam uma movimentação estratégica com vistas ao futuro: o cenário de 2026.
Coincidência ou não, a ex-prefeita Fernanda Hassem que ajudou a alavancar sua campanha, agora é pré-candidata a deputada federal. Seu irmão Tadeu Hassem, deputado estadual, busca a reeleição. E toda essa mudança de posicionamento político de Izabelle soa, para muitos, como parte de um jogo bem arquitetado: minar a força de um grupo político em ascensão na cidade e garantir espaço para as candidaturas de candidatos que agora, sempre estão acompanhadas frequentemente com a vereadora .
Quem conhece os bastidores sabe: há, sim, mãos pesadas por trás dessa movimentação. Nomes da capital e de outras regiões do Acre estariam atuando para rearranjar o tabuleiro político de Brasileia. A oposição de hoje pode muito bem ser a pré-campanha de amanhã.
O povo, claro, continua à espera de representação verdadeira. A dúvida é: Izabelle Araujo está fazendo oposição por convicção… ou por conveniência?
Enquanto isso, a política local segue seu curso, recheada de discursos, promessas e estratégias. E os vereadores, todos eles precisam lembrar que seu verdadeiro papel continua sendo legislar, fiscalizar e representar. O resto… o tempo mostra.