POR BBC NEWS BRASIL
Autoridades dos EUA prenderam nesta sexta-feira (12/09) o suspeito de ter assassinado o ativista conservador e aliado do presidente americano Donald Trump Charlie Kirk.
O homem foi identificado como Tyler Robinson, um estudante de elétrica de 22 anos.
Kirk morreu em um atentado com arma de fogo na quarta-feira (10/9), durante evento em uma universidade em Utah, nos Estados Unidos.
O governador de Utah, Spencer Cox, disse em uma coletiva do FBI (a polícia federal americana) que o pai de Robinson procurou um amigo pastor, que então contatou um xerife com informações de que o suspeito havia confessado o que aconteceu.
Segundo a parceira da BBC nos EUA, a CBS News, duas fontes contaram que o pai de Robinson percebeu que o suspeito era seu filho pelas imagens divulgadas pelo FBI após o crime. Ao questionar o filho, o jovem teria admitido que cometeu o crime.
As fontes acrescentaram que o pai incentivou o jovem a se entregar, mas que Robinson falou que preferiria a morte. Foi quando a família buscou ajuda de um pastor próximo, que acabou entrado em contato com as autoridades.
Antes, um colega de quarto de Robinson mostrou à polícia mensagens trocadas com um “Tyler” no Discord, popular plataforma de jogos e de chats em grupos de difícil rastreamento.
As mensagens de “Tyler” mencionavam a necessidade de recuperar um rifle de um ponto de entrega e deixar o rifle em um arbusto. As mensagens também indicavam que ele estava vigiando a área onde o rifle foi deixado e como a arma estava enrolada em uma toalha. Esse rifle foi apreendido pela polícia numa área de mata.
O governador Cox afirmou que os investigadores analisaram imagens de vídeo na universidade onde ocorreu o crime e identificaram Robinson em um veículo Dodge Challenger ainda em 10 de setembro, data do assassinato.
Nesta sexta (noite de quinta em Utah), quando ele foi abordado pessoalmente pelos investigadores no condado de Washington, Robinson usava roupas compatíveis com as das imagens, incluindo “uma camiseta lisa cor vinho, shorts claros, um boné preto com um logotipo branco e tênis claros”.
O presidente Donald Trump disse ao canal Fox News mais cedo que espera que o assassino de Kirk receba a pena de morte e afirmou que “Kirk era uma pessoa excelente e não merecia isso.”
As acusações formais contra Robinson serão apresentadas na terça-feira (16/9), segundo um comunicado do Escritório do Procurador do Condado de Utah. Ele deve ser acusado pelos crimes de homicídio qualificado, obstrução da Justiça e disparo de arma de fogo – causando lesão corporal grave
O suspeito era atualmente estudante do terceiro ano de um curso técnico de elétrica no Dixie Technical College, no sudoeste de Utah, onde morava, informou um porta-voz da Utah Valley University (UVU) à BBC.
Balas com inscrição ‘antifascista’
Ainda nesta sexta, autoridades dos EUA revelaram que as balas encontradas com a arma provavelmente usada por Robinson tinham referências ao movimento Antifa – ou antifascista.
Com um forte discurso anticapitalista, o movimento antifascista forma uma rede difusa de ativistas de esquerda radical – e não é uma organização propriamente dita.
As autoridades afirmam que um cartucho não deflagrado trazia a inscrição “Hey fascist, catch!” (“Ei, fascista, pega!”). Junto, havia uma seta para cima, uma para a direita e três para baixo – as três setas para baixo, sozinhas, podem ser consideradas um símbolo comum usado para representar o movimento antifascista.
Mas a sequência de setas como um todo pode representar um comando necessário para usar uma estratégia especial no jogo de videogame Helldivers 2, em que jogadores podem se unir a amigos ou desconhecidos para matar insetos gigantes e robôs.
O tema do jogo inclui algumas referências políticas, como “Liberdade. Paz. Democracia”.
Um membro da família de Robinson disse aos investigadores que o suspeito se tornou “mais político” nos últimos anos e disse que ele “não gostava” de Kirk nem de suas opiniões. Para Robinson, Kirk “era cheio de ódio e espalhava ódio”
Robinson foi registrado para votar em 2021 como “não filiado” a nenhum partido político nos EUA, segundo registros vistos pela BBC.
Onda de violência política nos EUA
Charlie Kirk, de 31 anos, participava de um debate sob uma tenda, respondendo a opositores políticos que se revezavam no microfone na Utah Valley University. Parte da plateia aplaudia nos gramados; outra parte protestava. Segundos depois, todos corriam em pânico.
Kirk morreu ao ser atingido no pescoço por uma bala durante o evento. O episódio foi registrado por câmeras, algumas exibindo a cena em detalhes sangrentos.
O suspeito não era estudante da universidade onde ocorreu o tiroteio.
Kirk, no passado, já havia alertado sobre o que considerava um risco de violência por parte de seus críticos — dos quais ele tinha muitos, em razão de seu estilo provocador de conservadorismo. Ainda assim, estava disposto a viajar para campi universitários, onde a política frequentemente pende para a esquerda, a fim de debater com quem estivesse interessado.
Ele defendia o direito às armas e valores conservadores, criticava os direitos de pessoas transgênero e apoiava incondicionalmente o presidente americano, Donald Trump. A organização de Kirk, Turning Point US, teve um papel central na campanha de mobilização eleitoral que levou o presidente a retornar à Casa Branca em 2025.
A tenda onde Kirk foi baleado tinha a inscrição “prove que estou errado”. Ele era considerado um herói, especialmente por jovens conservadores, ao se aproximar deles em qualquer lugar e oferecer um movimento próprio.
O assassinato de Kirk é mais um episódio de violência armada que chocou os Estados Unidos — e o mais recente em uma série crescente de episódios de violência política.
No início deste ano, a então presidente da Câmara de Representantes de Minnesota e membro do Partido Democrata, Melissa Hortman, 55, foi assassinada a tiros junto a seu marido; John Hoffman, senador estadual também de Minnesota e do Partido Democrata, ficou ferido em um ataque a tiros semelhante dentro da casa dele.
No ano passado, o então candidato presidencial do Partido Republicano, Donald Trump, foi alvo de duas tentativas de assassinato. O episódio em que foi atingido de raspão por uma bala durante um comício ao ar livre em Butler, Pensilvânia, apresenta semelhanças marcantes com o tiroteio de quarta-feira em Utah (10/09) — ambos ocorreram diante de multidões em locais abertos.
Dois anos antes, um agressor armado com um martelo invadiu a casa da então presidente da Câmara, Nancy Pelosi, membro influente do Partido Democrata. Em 2017, um homem abriu fogo contra congressistas republicanos durante um treino em um campo de beisebol no norte da Virgínia.
É difícil prever para onde a política americana irá a partir de agora, mas a trajetória é sombria.
A violência gera mais violência. Uma retórica cada vez mais divisiva, alimentada pelas câmaras de eco das redes sociais e pelo fácil acesso a armas de fogo, aumenta a tensão e eleva o risco de derramamento de sangue.