Petista mudou de discurso quando voltou à Presidência
“Acho que a Suprema Corte tem de ser escolhida por competência, por currículo, e não por amizade”, disse Luiz Inácio Lula da Silva, durante a campanha eleitoral para as eleições presidenciais de 2022.
Corta para 1º de junho de 2023. “Todos esperavam que indicássemos o Zanin”, disse Lula, ao confirmar a indicação de seu advogado para o Supremo Tribunal Federal (STF). “Não só pelo papel que teve na minha defesa, mas simplesmente porque acho que Zanin se transformará num grande ministro da Suprema Corte.”
O advogado defendeu Lula na Operação Lava Jato, e eles se aproximaram ainda mais na época da prisão do petista. Os dois mantinham uma relação familiar, visto que Zanin é casado com Valeska Zanin, afilhada do presidente.
Em março deste ano, Lula mudou o discurso sobre a indicação de amigos para o STF. “Hoje, se indicássemos o Zanin, todo mundo compreenderia que ele merecia ser indicado”, disse o presidente, em entrevista à BandNews. “Tecnicamente, ele cresceu de forma extraordinária. É meu amigo, meu companheiro, como outros são meus companheiros.”
Lula mudou de ideia sobre a PGR
Em 2019, por exemplo, o Partido dos Trabalhadores (PT) divulgou uma nota criticando a indicação de Augusto Aras para a PGR. O indicado não constava na famosa lista tríplice — resultado de uma eleição interna do órgão, que sugere três nomes para o presidente da República.
“O caso é mais um exemplo do despreparado de Bolsonaro para o cargo que ocupa, envergonhando uma posição que, durante 16 anos, foi preenchida de maneira brilhante”, dizia um trecho da nota. “Durante seus governos, Lula e Dilma Rousseff sempre respeitaram a lista tríplice e, na maioria das vezes, escolheram o mais votado pelos procuradores.”
Em 2022, durante a campanha eleitoral, Lula disse que seu governo jamais escolheu algum procurador-geral da República que “engavetasse” denúncias. “Não quero amigo em nenhuma instituição”, afirmou, em sabatina no Jornal Nacional. “Quero pessoas competentes, ilibadas, republicanas. Pessoas que pensem no povo brasileiro.”
Na mesma entrevista, Lula não se comprometeu a escolher os nomes indicados pela lista tríplice. Em 2023, foi além: disse ao site de extrema esquerda Brasil 247 que indicaria alguém para a PGR com base nos seus próprios critérios.
“A única coisa que tenho certeza é que não vou escolher mais a lista tríplice”, salientou. “E o Ministério Público Federal [MPF] tem de saber que não vou escolher por irresponsabilidade da força-tarefa do Paraná, que foi moleque, prejudicou a imagem do MPF e quase destruiu a imagem da seriedade do Ministério Público. Bando de moleque irresponsável. Eles jogaram fora uma coisa que apenas meu governo tinha feito: escolher a lista tríplice.”
O petista reforçou o discurso contrário à lista tríplice em entrevista à BandNews. “Esse não é mais o critério”, afirmou. “Quando vim para a Presidência, pensava no sindicato. Então, tudo para mim era lista tríplice. Está provado que nem tudo, com lista tríplice, resolve o problema. Então, vou ser mais criterioso para escolher o procurador-geral da República. O critério será pessoal, de muita meditação. Vou conversar com muita gente.”
Em março deste ano, Lula revelou que poderá escolher um terceiro ministro, caso algum integrante da Corte antecipe a aposentadoria. “Posso escolher três, possivelmente dois”, disse, meses antes de confirmar a indicação de Zanin. “Sempre pode acontecer. Mas o critério será o mesmo. Primeiro: notório saber jurídico, porque a escolha não é para mim. É para a nação. O cara tem de ser cumpridor da Constituição.”
Lula disse ainda que, mesmo se indicar três ministros, não terá influência sobre as decisões da Corte. “Nunca pedi nenhum favor a nenhum ministro”, afirmou. “Não foram indicados para me fazer favor ou me proteger.”
Nesta quinta-feira, 1º, o presidente ressaltou que o papel de Zanin em sua defesa foi fundamental no processo de indicação para o STF.