POR REGINALDO GUERRA
O Brasil ultrapassou a marca de quase 60 milhões de pessoas recebendo o programa Bolsa Família, somando-se a cerca de 94 milhões de cidadãos que têm acesso a algum tipo de benefício social. Os números reacenderam a discussão sobre a sustentabilidade do sistema e a necessidade de novos critérios para o auxílio governamental.
Segundo especialistas, embora o Bolsa Família seja um instrumento fundamental de combate à pobreza, é preciso avaliar com rigor os critérios de permanência no programa. “O que não pode ocorrer é transformar o benefício em uma dependência permanente do Estado, algo que se estenda por décadas, desestimulando a inserção no mercado de trabalho”, alertam analistas.
Há relatos de que muitos trabalhadores deixam de buscar empregos formais por receio de perder o benefício. “Existem pessoas em condições de trabalhar, saudáveis, que poderiam sustentar suas famílias e até prosperar com uma carreira, mas preferem permanecer na condição de beneficiários. Isso gera um ciclo de dependência que é prejudicial para o futuro do país”, destacam.
Outro ponto que preocupa é a sustentabilidade da Previdência Social. Atualmente, 58 milhões de brasileiros contribuem com o sistema previdenciário, enquanto 34 milhões de famílias recebem aposentadorias ou pensões. Na prática, isso significa que 1,7 trabalhador sustenta cada beneficiário, proporção considerada insustentável para o modelo em vigor.
A Previdência, que deveria funcionar como uma pirâmide sólida, com mais contribuintes na base garantindo o pagamento de quem já se aposentou, hoje sofre pressão devido ao envelhecimento da população e à crescente dependência de programas sociais.
O debate sobre a necessidade de ajustes tanto no Bolsa Família quanto na Previdência tende a ganhar força nos próximos anos, diante da preocupação com o equilíbrio fiscal e com o futuro das próximas gerações.