No interior do estado de São Paulo, no século XIX, viveu um dos personagens mais marcantes, e controversos, da história da escravidão brasileira: Roque José Florêncio, popularmente conhecido como Pata Seca. Com aproximadamente 2,18 metros de altura, ele se tornou alvo da exploração extrema praticada pelos senhores de escravos da época, que o tratavam não apenas como mão de obra, mas como instrumento de reprodução.
De acordo com relatos transmitidos oralmente por gerações, Pata Seca foi transformado em uma “máquina de fazer filhos”, obrigado a manter relações com diversas mulheres negras escravizadas para gerar crianças robustas, que posteriormente seriam vendidas ou incorporadas ao trabalho das fazendas. Há registros populares segundo os quais dezenas de mulheres eram trazidas para se deitar com ele, sempre sob coerção dos senhores, reforçando a brutalidade e a desumanização características do sistema escravista brasileiro.
A lenda em torno de Pata Seca afirma que ele teria tido entre 200 e 300 filhos, número que, ainda que impossível de ser confirmado com precisão documental, evidencia como sua imagem foi moldada pela cultura popular e pela memória dos descendentes.
Com a abolição da escravidão, em 1888, Roque José Florêncio recebeu um pedaço de terra, onde passou a viver como homem livre. Casou-se e teve mais nove filhos dentro da vida familiar que finalmente pôde construir por vontade própria.
Dizem que Pata Seca viveu por mais de 90 anos, e que seu funeral foi um dos maiores já vistos na região, reunindo milhares de pessoas. Em algumas localidades do interior paulista, moradores afirmam que até um terço da população atual pode ser descendente dele, tamanha teria sido sua descendência ao longo das gerações.
A história de Pata Seca, marcada por sofrimento, exploração e resistência, permanece viva como lembrança das feridas deixadas pela escravidão no Brasil, e como símbolo da força e da dignidade de quem, mesmo sob condições desumanas, deixou um legado que atravessou séculos.


